Em 15 anos devemos ter tecnologia para procurar sinais de vida em Kapteyn b, o planeta recém-descoberto a 13 anos-luz de distância que é quase tão velho quanto o próprio Universo e pode em tese preservar água em estado líquido em sua superfície. Pelo menos, foi o que me disse o astrônomo finlandês Mikko Tuomi, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido.
Ele é um dos autores do trabalho publicado ontem no periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society”, onde estão descritos os métodos da descoberta. Para detectar os planetas da Estrela de Kapteyn, os cientistas mediram o pequeno movimento que ela faz para lá e para cá, conforme os mundos que orbitam em torno dela a atraem gravitacionalmente. No entanto, se o objetivo for procurar sinais de vida, será preciso observar diretamente o planeta, ou seja, detectar a luz que vem dele.
“Esse estudo irá depender de imageamento direto, e a estrela é um alvo perfeito por conta de sua proximidade e baixa luminosidade, que nos permitiria estudar os planetas no futuro”, disse Tuomi
Certo, mas temos instrumentos agora para fazer essa observação? De acordo com o finlandês, não. Embora duas câmeras para imageamento direto de planetas fora do Sistema Solar estejam em operação nos observatórios Gemini e VLT, elas não teriam ainda a sensibilidade exigida para captar luz vinda dos planetas de Kapteyn. “Telescópios espaciais serão necessários para isso”, diz Tuomi. “Entretanto, eu permaneço otimista e acredito que em coisa de 15 anos um imageamento desses será possível.”
Ao captar a luz direta de um planeta, é possível analisar seu espectro e identificar a composição atmosférica, por exemplo. Sinais de oxigênio molecular, metano e vapor d’água seriam bons indícios de vida. E talvez fosse possível até buscar traços de moléculas ligadas diretamente à vida, como a clorofila. A astrobióloga Claudia Lage, da UFRJ, trabalha atualmente em modelagens dessas bioassinaturas.
ANTES DISSO
Se você ficou frustrado com uma espera de 15 anos, reacenda suas esperanças. De fato, teremos de aguardar isso ou mais para analisar a luz de planetas que exigem imageamento direto, como os de Kapteyn. Contudo, para sistemas em que o planeta passa à frente de sua estrela com relação a observadores no Sistema Solar, a história é outra. Nesses casos, é possível colher a assinatura de luz da própria estrela, no momento em que o planeta está transitando à frente dela. Alguns dos raios luminosos atravessarão as bordas da atmosfera planetária e chegarão até nós, carregando os sinais que tanto procuramos.
Por isso, em 2017 a Nasa vai lançar um novo satélite caçador de planetas chamado Tess. Ele deve identificar os mil planetas rochosos possivelmente habitáveis mais próximos do Sistema Solar, que sejam adequados a esse monitoramento posterior. Então, o Telescópio Espacial James Webb, sucessor do Hubble marcado para voar em 2018, poderá buscar as tais bioassinaturas nesses mundos.
O que já está bom vai ficar melhor ao longo da próxima década. Em 20 anos provavelmente saberemos a resposta a uma pergunta que tortura a humanidade há séculos: estamos sós no Universo? Quem viver, verá.